Endurance

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Endurance, novembro 2019

Milton Marques

Milton Marques, com uma única obra, ocupa toda a segunda sala da Alfinete. Para chegar até ela, o visitante precisa atravessar a primeira sala, descer a escada e então se deparar por uns instantes com um vazio: as paredes lisas do andar debaixo, apenas refletindo uma luz que escapa silenciosamente lá do fundo da sala. 

A parede ao fundo recebe uma projeção. A imagem é um tanto abstrata. Branco sobre branco. Uma superfície a deslizar e rachar. Linhas surgem e se desmancham em movimento constante. Pela textura, lembra areia talvez. O material vai se desfazendo, vai se esboroando em tons de branco. Num estilhaçar que segue indefinidamente. O movimento não se completa – nunca se completará – dentro do que parece ser um loop de vídeo. 

Toda a sala está vazia. À exceção dessa projeção. E à exceção de uma estrutura um tanto curiosa. Um par de tripés são os elementos mais destacados dessa instalação. Um dos tripés serve de apoio a um pequeno objeto. O outro segura uma câmera de vídeo apontada para baixo, na direção do tal objeto. Um aparelho celular, desligado, porém com a lanterna acesa, também está apontado para baixo, na mesma direção da câmera. 

Eis a engenharia de Milton Marques lentamente a se revelar.

Bernardo Scartezini