Aliança

ALIANÇA: navegando o mar cor de vinho em demanda de povos de línguas estranhas, setembro 2016

Iris Helena, curadoria: Marilia Panitz

Sobre ser estrangeiro: esta pode ser uma boa maneira de abordar esta mostra, com três trabalhos inéditos. Uma conexão arbitrária entre Brasília e Frankfurt. Explico: recém-chegada à capital, a artista é convidada a fazer uma residência na cidade alemã. Ainda decodificando a cidade avião (o que realmente não é uma tarefa fácil), Iris atravessa o oceano para viver a experiência de um novo lugar, que não conhecia e do qual não dominava a língua – solidão e olhar atento. Assim, entre duas cidades desconhecidas, os elos imaginários foram se formando: a cidade-nova, ainda em construção foi vista pelas icônicas imagens de sua construção – estruturas à mostra. Já a velha cidade europeia comparece com as estruturas dos prédios expostas pela destruição da guerra (para quem já foi até lá, isso vai lembrar os inúmeros postais do centro reconstruído, sempre dividindo espaço com as ruinas da segunda grande guerra, cicatriz indelével – será a criação da capital modernista uma cicatriz para o país, podíamos perguntar?). Aliança é formada por pares de imagens-irmãs unidas por uma dobradiça que as deixa articuladas (abrem-se e fecham-se como janelas…ou portas). Distribuídas na parede, nos convidam a um jogo de aparição-desaparição.

O outro trabalho é Souvenir, decorrente de uma lembrança trazida das derivas solitárias pela cidade alemã – um pequeno globo com neve onde figuravam as características casas de arquitetura enxaimel, típicas do centro reconstruído. Nos globos de Iris, as imagens são outras, são lembranças dos monumentos em ruínas, mas o princípio do jogo é o mesmo. Estranha experiência “a-turística”, de mergulho nas entranhas das urbes.

O terceiro trabalho também emula as lembranças das terras distantes tornadas próximas: Todas as Pontes. Um prato impresso (como aqueles que todo visitante do pão de açúcar e do corcovado pode levar); só que este é daqueles encontrados em todo interior do Brasil, de ágata. Nele está impressa a ponte de ferro destruída pelos habitantes de Frankfurt, durante a guerra, como estratégia de autoproteção. Sobre o ferro, a inscrição grega que vêm lá da Odisseia de Homero: “navegando o mar cor de vinho em demanda de povos de línguas estranhas”…. assim como aquela artista caminhante pelas ruas de uma e outra cidade – estrangeira ou não. Olhar que estranha e ao mesmo tempo propõe leitura. Boa viagem!

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